TURISMO ESPACIAL É UMA REALIDADE

A Space X conseguiu mais uma conquista histórica na direção do turismo espacial: concluiu no sábado dia 18 de setembro 2021, a primeira viagem orbital totalmente civil do mundo, com 4 tripulantes: Jared Isaacman, Hayley Arceneaux, Chris Sembroski e Sian Proctor. 

Essa campanha foi oficialmente anunciada no dia 1º de fevereiro de 2021, mas suas propagandas só começaram a circular no dia 7 do mesmo mês.

Os anúncios iniciais passaram em um dos eventos mais assistidos do planeta, o SuperBowl, que é a grande final da NFL, o campeonato da Liga Nacional de Futebol Americano.

 Em outras palavras, um lançamento de marketing em grande estilo.

Figura 1: Chegada da Dragon com seus tripulantes no Oceano Atlântico

MOSTRANDO AS UNHAS

Já no mês de março de 2021, as seleções de tripulação foram anunciadas, começando logo em seguida o treinamento para a viagem épica. O lançamento aconteceu no dia 15 de setembro.¹

Embora o começo deste texto mencione uma conquista histórica, e apenas ela, da companhia Space X, essa viagem do dia 15 de setembro veio para inaugurar várias outras proezas. De acordo com o site oficial da Inspiration 4,¹ entre elas estão:

· A Primeira piloto negra de uma espaçonave, a Dra Sian Proctor;

· A mais jovem americana no espaço, Hayley Arceneaux;

· Primeira pessoa a voar para o espaço com uma prótese, também a Hayley Arceneaux, que sofrera com um câncer nos ossos a partir dos 10 anos de idade;

· Primeiro vôo livre de uma espaçonave Dragon em uma missão espacial humana;

· Primeira descida de uma tripulação da Espaçonave Dragon no Oceano Atlântico.

Um recorde que não está nos bullet points acima e que se refere à distância com que a espaçonave Dragon chegou, diz respeito a uma comparação direta com o Telescópio Espacial Hubble (HST).

A Dragon, que considerando o acoplamento da capsula com o tronco, chega a ter 8,1m de altura e o diâmetro em sua largura máxima de 4m, já tem certa “experiência” com viagens espaciais.

Até então, aconteceram 29 viagens ao todo e em 25 delas o destino foi a Estação Espacial Internacional (ISS), que fica a aproximadamente 420km de altitude.

E a gente pode começar a comparar o recorde estratosférico da Dragon por aqui.

Como você acabou de ver, a ISS orbita o planeta Terra numa altitude de aproximadamente 420km, mas o recorde de voo espacial humano estava com as missões do Hubble, que está numa órbita de cerca de 540km de altitude, 120km mais distante que a ISS.

Já a Dragon alcançou os incríveis 575km de altitude, 35km de altitude a mais que o recorde do HST, algo realmente grandioso.

Figura 2 – Da direita para a esquerda: Chris Sembroski, Sian Proctor, Jared Isaacman e Hayley Arceneaux

ENTENDA ESSA HISTÓRIA

A aplicação de tantos recursos assim para uma missão, testes exaustivos para a nave e para a tripulação, o tempo gasto do começo ao final da campanha, estudos de meteorologia, todo o investimento financeiro feito para tornar esse plane em realidade e tantos outros que se pode mencionar, tem uma razão:

“(…)ambiciosa meta de arrecadação de fundos de Jared [um dos tripulantes] para dar esperança a todas as crianças com câncer e outras doenças fatais.”²

O St. Jude Children’s Research Hospital ou, por tradução livre, o Hospital São Judas de Pesquisa Infantil é um hospital que foi inaugurado no ano de 1962 na cidade de Memphis, no estado do Tennessee, nos Estados Unidos (EUA) com o objetivo de encontrar cura para crianças com doenças de alto índice de mortalidade infantil.

De acordo com o site oficial de arrecadação de donativos para a campanha, os tratamentos desenvolvidos no St. Jude contribuíram para que o percentual de crianças sobreviventes aos mais variados tipos de câncer infantil aumentasse de 20% para gloriosos mais de 80% nos EUA.³

E entre as crianças que passaram pelo St. Jude com surpreendentes histórias de superação está a tripulante Hayley Arceneaux.4

Figura 3 – Festa da “Químio Nunca Mais” da Hayley, em 2002 

Que revira volta fantástica essa que a vida deu!

Inclusive, vou deixar aqui pra você o link da página oficial do St. Jude Children’s ResearchHospital.5

TUDO ISSO É SÓ O COMEÇO

É evidente que, para além do objetivo primário mencionado no texto, essa viagem ao espaço confirma mais uma vez a capacidade de transporte que a Space X conseguiu com o tempo.

O foco da Space X é realmente o turismo espacial, mas há também alguns desejos que por enquanto são periféricos e que podem ganhar importância e relevância daqui pra frente.

Mas isso já é papo para uma outra ocasião.

REFERÊNCIAS

1. 4, I. Inspiration 4/mission. Disponível em: <https://inspiration4.com/mission>. Acesso em: 19 set. 2021.

2. SPACE X. Space X/Launches. Disponível em: <https://www.spacex.com/launches/>. Acesso em: 19 set. 2021.

3. 4, I. Inspiration4/donate. Disponível em: <https://inspiration4.com/donate>. Acesso em: 19 set. 2021.

4. CHARLIER, T. Hayley Arceneaux: Mission of a Lifetime. Disponível em: <https://www.stjude.org/inspire/series/storied-lives/st-jude-cancer-survivor-hayley-arceneaux-hope-inspiration4-worlds-first-all-civilian-space-flight.html>. Acesso em: 19 set. 2021.

5. HOSPITAL, S. J. C. R. St Jude Children’s Research Hospital/inspiration4. Disponível em: <https://www.stjude.org/get-involved/other-ways/inspiration4.html>. Acesso em: 19 set. 2021.

Figuras

Figura 1. 4, I. KENNEDY SPACE CENTER, FL, September 18, 2021. Disponível em: <https://inspiration4.com/press/kennedy-space-center-fl-september-18-2021–after>. Acesso em: 19 set. 2021. 

Figura 2. 4, I. Tripulação Inspiration 4. Disponível em:<https://inspiration4.com/press/inspiration4-crew-will-conduct-health-research-to-further>. Acesso em: 19 set. 2021. 

Figura 3. HOSPITAL, S. J. C. R. Hayley’s No More Chimo Party, 2002. Disponível em: <https://www.stjude.org/inspire/series/storied-lives/st-jude-cancer-survivor-hayley-arceneaux-hope-inspiration4-worlds-first-all-civilian-space-flight.html>. Acesso em: 19 set. 2021. 

EXOPLANETAS: DO PASSADO AO PRESENTE

Figura 1 – Comparação das concepções artísticas em escala de Júpiter (à esquerda ) e do exoplaneta MASCARA-1, maior, à direita.

Um papo sobre exoplanetas

Para falar sobre os exoplanetas, precisamos definir bem o que é um planeta. De acordo com a União Astronômica Internacional, é considerado planeta do Sistema Solar um corpo que tenha atingido equilíbrio hidrostático.

Ou seja, um corpo que apresente um formato quase esférico, que esteja em órbita ao redor do Sol e que seja o objeto dominante, sem nenhum outro com tamanho parecido ou maior, nessa órbita.²

Até o dia da escrita deste artigo, 26/08/21, de acordo com a NASA, 4.472 exoplanetas já haviam sido confirmados e existiam mais 7.695 que são considerados pela NASA como candidatos a exoplanetas.³

Acredite, esse número dos confirmados já estava desatualizado no dia seguinte, uma vez que novos exoplanetas são descobertos toda hora.

O caminho é cheio de altos e baixos

Embora já saibamos desses 4.472 exoplanetas, eles começaram a ser descobertos apenas no último 1/10 do século XX.

Ou seja, até a década de 1990 a humanidade desconhecia qualquer pronunciamento oficial de descobertas de planetas além do sistema solar.4 

Tudo o que se falava ao redor deste assunto até então acontecia apenas no caminho das hipóteses. Suas descobertas são realmente muito recentes.

Mas chega a ser até controverso o fato de que já se havia falado na possibilidade de existir no universo milhares de outras estrelas como o Sol, com outros tantos de planetas ao redor dessas estrelas, no século XVII.

Giordano Bruno foi condenado no século XVI pela propagação de ideias que eram chamadas de heresias pela Igreja Católica.

Dentre essas ideias estavam as alegações da possibilidade de existência de infinitas estrelas como o Sol, orbitadas por inúmeros outros planetas como o Planeta Terra, onde habitariam seres inteligentes como nós5.

Já no século XVII, observações de Galileu Galilei revolucionaram a maneira como a humanidade enxergava o céu.

A descoberta das crateras na Lua, das 4 luas de Júpiter em órbita do gigante gasoso foram como um alerta de que a ideia de que o universo girava em torno da Terra estava com os dias contatos.

Quase que ao mesmo tempo, o astrônomo Johannes Kepler surgira com as tão faladas primeira e segunda lei de Kepler, que descreviam como os planetas orbitavam o Sol.

Nos ombros de gigantes

Sem mencionar diversos nomes crucias para que o conhecimento que temos hoje de astronomia, e da cosmologia de modo geral, fosse construído, como Nicolau Copérnico, Tycho Brahe, Isaac Newton, Subrahmanyan Chandrasekhar, Edwin Hubble e tantos outros.

Sem falar também da parcela que cada um destes, podemos nos direcionar para o momento onde estamos, na terceira década do século XXI e pensar novamente nos exoplanetas.

O universo é um rio, um mar

A busca por exoplanetas pode ser comparada com a pesca. Não há um único jeito de pescar, de modo que a maneira que o pescador vai em busca de sua presa depende muito do tamanho do peixe que ele pretende pegar e de onde deseja pega-lo.

Essas e outras possibilidades vão determinar a(s) técnica(s) que ele vai utilizar: se vai com anzol, com redes, ou tarrafas, ou lanças, etc.

Vale a pena lembrar que o pescador não tem certeza se volta pra casa com muitos ou com poucos peixes. Há até a incerteza de que a campanha não retorne pra ele nenhum pescado.

É dura a vida do pescador!

Mas uma coisa é certa: o pescador precisa sair para pescar, caso queira voltar pra casa com seu próprio pescado.

Do mesmo jeito, a procura por exoplanetas pode ser demorada, exaustiva e infrutífera.

Isso significa também que existem métodos que vão encontrar majoritariamente determinadas classes de exoplanetas, quando comparados com outros.

Que nem sempre os resultados vão apontar para a descoberta de um exoplaneta e que a caça contínua precisa acontecer, para que mais exoplanetas sejam detectados, mais mundos sejam encontrados e talvez, até outras vidas sejam descobertas. Já pensou?! 

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Referências

1. NASCIMENTO, J. D. DO. Exoplanetas e a busca por novos mundos. Revista Brasileira de Astronomia, v. 4, p. 32–37, 1AD.
2. IAU, A. G. DA. The Final IAU Resolution on the definition of “planet” reading for voting. Disponível em: <https://www.iau.org/news/pressreleases/detail/iau0602/>.
3. NASA. Eyes on Exoplanets. Disponível em: <https://exoplanets.nasa.gov/eyes-on-exoplanets/#/>. Acessado em: 26/08/2021, 18h30min.
4. BRENNAN, P. Exoplanet Discobery – and Mistery. Disponível em: <https://exoplanets.nasa.gov/what-is-an-exoplanet/planet-types/overview/>. Acesso em: 29 ago. 2021.
5. COCKFORD, P. D. Cosmos & Culture – Cultural Evolution in a Cosmic Context. [s.l: s.n.]. v. 3

Figuras

1. NASA. Eyes on Exoplanets. Disponível em: https://exoplanets.nasa.gov/eyes-on-exoplanets/#/planet/MASCARA-1_b/. Acessado em: 26/08/2021, 18h30min.

O PRIMEIRO PASSEIO A GENTE NUNCA ESQUECE

Você tem o hábito de observar o céu noturno?

“Saturno tem anéis mesmo!”

No dia 13 de agosto de 2021 aconteceu meu primeiro passeio como parte da equipe do Observatório Astronômico (OAU) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Foi na Queima Cultural dos Homens de Barro no sítio Cores da Terra, em Ibirataia, uma cidadezinha no sul da Bahia, com pouco menos de 15.000 habitantes.

Eu participei juntamente com a Larissa Santos e a Carol Thiara como representantes do OAU no evento. Foi a minha primeira viagem como representante da equipe do OAU.

No fim do ano de 2019 eu participei do “Céu na Praça”, na cidade de Ilhéus. Eu nem considero como uma viagem, já que moro em Itabuna, que fica a 30km dela e frequentemente eu passo por lá.

Preparação Para a Noite

Foi uma noite muito fria, estávamos todos bem agasalhados e a partir das 21h começamos a receber os primeiros curiosos da noite. 

Eu fui responsável pela observação do céu, a Larissa estava lá para apresentar o Sarau das Copas, uma das atividades apresentadas pelo OAU e a Carol estava lá como quebra-galho, pra fazer um pouco de tudo e fazer capturas de momentos com a máquina fotográfica. 

Além da ponteira laser, eu levei também um Maksutov Cassegrain Orion, com a lente objetiva de 127mm, distância focal de 1540mm e razão focal F12, além de uma montagem equatorial EQ3 com o tripé. E nem estou contando com o peso da minha mochila.

Ou seja, estava uma carga muito pesada. 

Cheguei no local do evento, sítio muito bem cuidado e muito bonito, por sinal, e começamos a montar o acampamento.

Recebemos pessoas de várias idades; primeiramente apareceram jovens, em seguida pessoas adultas, geralmente casais com seus filhos, e por último vieram idoso. E nem tínhamos separado por faixa etária.

Era nítida como as pessoas que chegavam sabiam, mesmo que pouca coisa, sobre ciências, física e sobre astronomia, o que me espantou. 

Muitos sabiam diferenciar planetas, como Júpiter de Saturno, Marte de Vênus, com características acertadas. 

Expectativa versus Realidade

O roteiro dessa primeira visita era o seguinte:

  1. Fazia uma breve apresentação do céu, mostrando a constelação do Escorpião que estava bem acima das nossas cabeças, o que eu chamo de “estar de peito aberto”, o Cruzeiro do Sul um pouco baixo no céu e descendo, além dos planetas Júpiter e Saturno e a destacada Via-Láctea, da qual tínhamos uma bela visão naquele espaço escuro do sítio;
  2. Logo em seguida eu fazia uma introdução à observação das luas de Júpiter que Galileu Galilei fez em 1609, descobrindo as que chamamos hoje de as 4 Luas Galileanas: Io, Calisto, Ganimedes e Europa;
  3. Fazíamos a observação de Júpiter e essas luas. Uma coisa interessante foi perceber que havia um movimento, mesmo durante apenas uma noite, das Luas Galileanas. No começo da noite eu conseguia ver apenas 3 delas. Foi muito legal ver que uma dupla de garotas fizeram observação pelo telescópio no início da noite e no fim da observação e elas que no começo só tinham visto 2, antes de irem embora conseguiram ver as 4, o que pra mim foi muito legal;
  4. Por último eu apontava o telescópio para Saturno, o que acabava se tornando o ponto alto da visita. 

No momento em que as pessoas faziam a observação, eu perguntava pra elas o que viam, e a resposta se dividia em dois grupos: Os que respondiam que perceberam os anéis e ficavam admirados e os que ficavam claramente frustrados por não conseguirem identificar bem o que viam ou não conseguiam separar os anéis do planeta.

Para ambas as respostas eu tinha um Plano B, que era justamente trocar a ocular de 20mm e colocar uma de 8mm, que faz com que o campo de visão diminuísse, mas a aproximação aumentasse, aumentando também a imagem do objeto observado. 

Uma virada de jogo

Nesse momento, meus amigos, tanto as pessoas do primeiro grupo de respostas, quanto do segundo abriam aquele sorriso, como quem finalmente aceita as informações que leram ou viram na tv desde a infância e sentiam o alívio de perceber que aquelas imagens de Saturno eram mesmo dele e que não haviam sido enganadas.

Aqui está o ponto onde eu queria chegar. Ouvir de tantas pessoas, desde as crianças aos mais idosos, que Saturno realmente tinha anéis nos mostra o quanto que as pessoas, de modo geral, desconhecem o universo.

Isso se tratando tanto da nossa vizinhança ou se falamos nos mais distantes pontos que podemos enxergar do cosmos.

E é preciso lembrar que nem todo mundo vai querer ser Físico, Astrônomo. Nem todo mundo tem vocação para carreira acadêmica. E está tudo bem com isso.

Mas, é certo que, de maneira geral, as pessoas não tem contato com telescópios, com simuladores do céu, com monitoradores de satélites artificiais ou qualquer coisa do tipo. 

Essa falta de contato, que muitas vezes se dá pela falta de acesso ou por não saber onde procurar faz com que as pessoas passem suas vidas sem saberem coisas simples ao seu redor, como os pontos cardeais ou a distância e as dimensões da Lua.

Às vezes as pessoas não sabem explicar nem mesmo sabem como se dão as fases da Lua.

Por isso que é importante pegar o telescópio, levar até as praças, levas às escolas, chamar os amigos, a família, alguma turma da escola do bairro e conversar sobre os planetas.

Vale a pena mencionar sobre as estrelas, constelações, sobre o mundo à nossa volta e percebermos o movimento, a beleza e a elegância do céu.

Conclusão

Estamos em tempos difíceis.

A pandemia da Covid-19 tem assolado ainda o povo brasileiro e algumas restrições precisam ser obedecidas.

Os cuidados continuam sendo necessários para que erradiquemos de uma vez esse vírus maldito à medida que a vacinação avança no país.

Saiba que, mesmo dentro de nossas casas, das janelas e mesmo em apartamentos, é possível acompanhar o céu noturno. Existem muitos simuladores gratuitos e fáceis de manusear.

Menciono aqui o Stellarium, o In The Sky, Heavens-Above, Sky Safary, o Star Walk 2, Celestia (estes 3 últimos para mobile). 

Basta a menor dose de curiosidade com um pouco empenho e te garanto que você vai aprender tantas coisas sobre o universo que jamais imaginou que você fosse aprender.

Me acompanhe por aqui, a ideia é de tornar os textos no blog cada vez mais frequentes.

Até mais. 

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