“Saturno tem anéis mesmo!”
No dia 13 de agosto de 2021 aconteceu meu primeiro passeio como parte da equipe do Observatório Astronômico (OAU) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Foi na Queima Cultural dos Homens de Barro no sítio Cores da Terra, em Ibirataia, uma cidadezinha no sul da Bahia, com pouco menos de 15.000 habitantes.
Eu participei juntamente com a Larissa Santos e a Carol Thiara como representantes do OAU no evento. Foi a minha primeira viagem como representante da equipe do OAU.
No fim do ano de 2019 eu participei do “Céu na Praça”, na cidade de Ilhéus. Eu nem considero como uma viagem, já que moro em Itabuna, que fica a 30km dela e frequentemente eu passo por lá.
Preparação Para a Noite
Foi uma noite muito fria, estávamos todos bem agasalhados e a partir das 21h começamos a receber os primeiros curiosos da noite.
Eu fui responsável pela observação do céu, a Larissa estava lá para apresentar o Sarau das Copas, uma das atividades apresentadas pelo OAU e a Carol estava lá como quebra-galho, pra fazer um pouco de tudo e fazer capturas de momentos com a máquina fotográfica.
Além da ponteira laser, eu levei também um Maksutov Cassegrain Orion, com a lente objetiva de 127mm, distância focal de 1540mm e razão focal F12, além de uma montagem equatorial EQ3 com o tripé. E nem estou contando com o peso da minha mochila.
Ou seja, estava uma carga muito pesada.
Cheguei no local do evento, sítio muito bem cuidado e muito bonito, por sinal, e começamos a montar o acampamento.
Recebemos pessoas de várias idades; primeiramente apareceram jovens, em seguida pessoas adultas, geralmente casais com seus filhos, e por último vieram idoso. E nem tínhamos separado por faixa etária.
Era nítida como as pessoas que chegavam sabiam, mesmo que pouca coisa, sobre ciências, física e sobre astronomia, o que me espantou.
Muitos sabiam diferenciar planetas, como Júpiter de Saturno, Marte de Vênus, com características acertadas.
Expectativa versus Realidade
O roteiro dessa primeira visita era o seguinte:
- Fazia uma breve apresentação do céu, mostrando a constelação do Escorpião que estava bem acima das nossas cabeças, o que eu chamo de “estar de peito aberto”, o Cruzeiro do Sul um pouco baixo no céu e descendo, além dos planetas Júpiter e Saturno e a destacada Via-Láctea, da qual tínhamos uma bela visão naquele espaço escuro do sítio;
- Logo em seguida eu fazia uma introdução à observação das luas de Júpiter que Galileu Galilei fez em 1609, descobrindo as que chamamos hoje de as 4 Luas Galileanas: Io, Calisto, Ganimedes e Europa;
- Fazíamos a observação de Júpiter e essas luas. Uma coisa interessante foi perceber que havia um movimento, mesmo durante apenas uma noite, das Luas Galileanas. No começo da noite eu conseguia ver apenas 3 delas. Foi muito legal ver que uma dupla de garotas fizeram observação pelo telescópio no início da noite e no fim da observação e elas que no começo só tinham visto 2, antes de irem embora conseguiram ver as 4, o que pra mim foi muito legal;
- Por último eu apontava o telescópio para Saturno, o que acabava se tornando o ponto alto da visita.
No momento em que as pessoas faziam a observação, eu perguntava pra elas o que viam, e a resposta se dividia em dois grupos: Os que respondiam que perceberam os anéis e ficavam admirados e os que ficavam claramente frustrados por não conseguirem identificar bem o que viam ou não conseguiam separar os anéis do planeta.
Para ambas as respostas eu tinha um Plano B, que era justamente trocar a ocular de 20mm e colocar uma de 8mm, que faz com que o campo de visão diminuísse, mas a aproximação aumentasse, aumentando também a imagem do objeto observado.
Uma virada de jogo
Nesse momento, meus amigos, tanto as pessoas do primeiro grupo de respostas, quanto do segundo abriam aquele sorriso, como quem finalmente aceita as informações que leram ou viram na tv desde a infância e sentiam o alívio de perceber que aquelas imagens de Saturno eram mesmo dele e que não haviam sido enganadas.
Aqui está o ponto onde eu queria chegar. Ouvir de tantas pessoas, desde as crianças aos mais idosos, que Saturno realmente tinha anéis nos mostra o quanto que as pessoas, de modo geral, desconhecem o universo.
Isso se tratando tanto da nossa vizinhança ou se falamos nos mais distantes pontos que podemos enxergar do cosmos.
E é preciso lembrar que nem todo mundo vai querer ser Físico, Astrônomo. Nem todo mundo tem vocação para carreira acadêmica. E está tudo bem com isso.
Mas, é certo que, de maneira geral, as pessoas não tem contato com telescópios, com simuladores do céu, com monitoradores de satélites artificiais ou qualquer coisa do tipo.
Essa falta de contato, que muitas vezes se dá pela falta de acesso ou por não saber onde procurar faz com que as pessoas passem suas vidas sem saberem coisas simples ao seu redor, como os pontos cardeais ou a distância e as dimensões da Lua.
Às vezes as pessoas não sabem explicar nem mesmo sabem como se dão as fases da Lua.
Por isso que é importante pegar o telescópio, levar até as praças, levas às escolas, chamar os amigos, a família, alguma turma da escola do bairro e conversar sobre os planetas.
Vale a pena mencionar sobre as estrelas, constelações, sobre o mundo à nossa volta e percebermos o movimento, a beleza e a elegância do céu.
Conclusão
Estamos em tempos difíceis.
A pandemia da Covid-19 tem assolado ainda o povo brasileiro e algumas restrições precisam ser obedecidas.
Os cuidados continuam sendo necessários para que erradiquemos de uma vez esse vírus maldito à medida que a vacinação avança no país.
Saiba que, mesmo dentro de nossas casas, das janelas e mesmo em apartamentos, é possível acompanhar o céu noturno. Existem muitos simuladores gratuitos e fáceis de manusear.
Menciono aqui o Stellarium, o In The Sky, Heavens-Above, Sky Safary, o Star Walk 2, Celestia (estes 3 últimos para mobile).
Basta a menor dose de curiosidade com um pouco empenho e te garanto que você vai aprender tantas coisas sobre o universo que jamais imaginou que você fosse aprender.
Me acompanhe por aqui, a ideia é de tornar os textos no blog cada vez mais frequentes.
Até mais.