Observatório Astronômico da UESC: Venha Conhecer

Não são muitos os lugares no Brasil nos quais se podem encontrar exposições ou outros eventos voltados para a divulgação da astronomia.

Se essa busca for, principalmente, por algo recorrente como eventos semestrais ou anuais, suas possibilidades diminuem ainda mais.

Há claramente uma deficiência na divulgação e popularização das ciências naturais de modo geral e da astronomia em particular, no Brasil.

Porém, no sul da Bahia, há mais de uma década o Observatório Astronômico da UESC, o OAU, se mostra como um braço forte que luta contra essa deficiência.

Há sempre uma luz no fim do túnel!

O OAU, é um ambiente de educação não-formal de astronomia, que busca soluções para tornar conhecimentos científicos e culturais mais acessíveis a todos.

É também um ambiente que promove a troca de experiências sociais, mantendo sempre um staff plural de voluntários, bolsistas e professores.

Neste artigo, vou contar um pouco do que o OAU oferece e o que você pode fazer para visitá-lo.

O que é Observatório Astronômico da UESC?

Quando falamos em Observatório Astronômico é normal pensarmos em um lugar com telescópios gigantes, com pessoas manuseando-os toda a noite, fazendo ajustes nos instrumentos.

Há quem pense por aí que os observatórios astronômicos são ambientes utilizados unicamente para coleta de dados para pesquisa em astronomia e astrofísica.

Eu te garanto: atualmente a prática da pesquisa “dura” de astronomia e astrofísica tem mais a ver com computadores do que com cientistas manuseando telescópios sob o orvalho de uma noite estrelada.

Isso porque os principais telescópios do mundo funcionam de maneira automatizada; os cientistas não passam a noite olhando pelas oculares dos telescópios e os observatórios astronômicos possuem toda uma equipe técnica responsável pela aquisição de dados.

Os cientistas se preocupam em aplicar seus conhecimentos nas pesquisas e fazem, entre tantas outras coisas, por exemplo, códigos em linguagens de programação como R ou Python para o processamento dos dados gerados durante as noites de observação.

Porém os observatórios astronômicos podem ser muito mais do que locais para obtenção de dados.

Além da pesquisa, eles podem estar vinculados também a projetos de ensino e extensão.

E o Observatório Astronômico da UESC segue atuando há mais de 10 anos, principalmente por estes caminhos.

Segundo o site oficial do OAU, o Observatório Astronômico da UESC é:

“(…) um núcleo de extensão universitária cuja missão principal é promover a divulgação e a popularização de astronomia para a comunidade em geral.”.

Parte da atual equipe do Observatório Astronômico da UESC. Fonte: OAU.

Dada uma breve explicação sobre o que é, você vai ver agora um pouco dos trabalhos realizados pelo OAU.

O que o OAU faz, afinal?

Registro de um momento do Sarau das Estrelas, nas instalações do OAU, UESC. Ao fundo, as copas das árvores do Horto do campus e um lindo céu estrelado. Fonte: OAU.

Nesse intuito de divulgação e popularização da astronomia, o OAU realiza várias atividades, que podem incluir sarau, um bate-papo sobre astronomia com um professor ou monitor vinculado ao projeto, observação céu, treinamentos para professores, etc.

Periodicamente o OAU abre um edital no site oficial da UESC para o agendamento de visitas de escolas, clubes de astronomia, grupos de estudos, etc.

Vale lembrar que essas visitas podem acontecer tanto no campus da UESC como em uma região rural ou no centro das cidades, em praças públicas, quadras municipais, escolas, entre outras localidades.

Como resultado da minha primeira viagem com o OAU, eu até fiz o artigo “O Primeiro Passeio a Gente Nunca Esquece” .

Nele eu conto um pouco do que fiz e de como me senti nessa viagem.

Agora, veja o que o Prof. Dr. Jules Soares, que é coordenador do OAU, falou exclusivamente pra nós a respeito das atividades do OAU:

“O OAU funciona desde maio 2013. Em seu programa de recepção de escolas, em 2023 atendeu 103 escolas, alcançando um público estimado em 3 mil pessoas. A média dos anos anteriores foi de 40 escolas ao ano, uma vez que as recepções tinham periodicidade de 1 vez por semana, alcançando um público entre 1000 e 1500 pessoas (por ano). As escolas atendidas são majoritariamente públicas (60%) de cidades no sul da Bahia, dentro de um raio de 150 km no entorno da UESC; Além das ações na UESC, o OAU realiza atividades externas, incluindo observação em praças públicas e escolas. Em média são realizadas 10 ações externas ao ano, focadas em comunidades rurais, quilombolas e aldeias indígenas.”

Como fazer para visitar ou receber uma visita do OAU?

Como falei, periodicamente sai um edital de agendamento no site da UESC.

Porém, estes editais dão acesso a um link de agendamento que também é disponibilizado pelo Instagram do Observatório (@observatoriouesc).

Se você prestar atenção no site da UESC e no Instagram do Observatório, vai perceber que aproximadamente a cada 2 meses as inscrições são abertas.

Depois de preencher a ficha de agendamento, a pessoa responsável pela solicitação aguarda o contato da equipe do OAU para verificar a disponibilidade, marcar a data, horário e acertar os detalhes da visita.

Ainda que seu grupo não consiga data para agendamento, você poderá tentar novamente na próxima vez em que as inscrições ficarem disponíveis.

Uma Visita Especial

Como já foi dito, apresentações do OAU também compõem momentos de poesia, música, e claro, observação do céu com e sem telescópios.

Todos os envolvidos, sejam instrumentistas, vocalistas, recitantes, especialistas em astronomia, equipe de fotografia e suporte, buscam sempre promover a melhor sensação para os visitantes em cada programação.

No Sarau das Estrelas, a equipe do OAU apresenta muito mais do que meros poemas e canções, mas envolvem o público com recitação cativante, com essa belíssima produção autoral.

O público geralmente se deita e olha diretamente para o céu, enquanto o Sarau das Estrelas acontece.

Depois do Sarau, geralmente telescópios ficam disponíveis para a observação de astros ou estrelas, dependendo das condições climáticas da noite.

Na “Conversa Sobre Astronomia”, professores do Colegiado de Física da UESC fazem uma breve apresentação sobre informações e curiosidades relacionadas à astronomia e astrofísica.

O público pode participar ativamente fazendo perguntas, tirando dúvidas, tornando o momento mais dinâmico.

Há também as oficinas, porém elas não acontecem com tanta periodicidade.

Elas são informadas com antecedência, e geralmente possuem um intuito pré-definido, com um público-alvo bem específico.

Os musicais BOREPETEI e Circo Celestial também podem acompanhar as apresentações do Observatório Astronômico da UESC, porém também exigem prévio preparo e avisos que podem até requerer uma maior antecedência que as demais atividades.

Quando as visitas acontecem no Campus da UESC, os visitantes ainda têm a oportunidade de expressar um pouco do que acharam ou sentiram na visita, seja escrevendo um breve relato, um poema, ou pintando e rabiscando folhas de cadernos que ficam disponíveis para isso.

O OAU ainda dispõe de uma pequena loja, que vende itens relacionados à cultura nerd e à astronomia de modo geral, como porta-retratos do Star Wars e canecas customizadas.

Vale muito a pena conferir.

O Observatório Astronômico da UESC espera por você

Não perca mais tempo: Corra para agendar sua visita ao OAU agora mesmo!

E se você descobrir que não está no período de agendamentos, visite o site oficial, veja tudo o que tem lá e em seguida siga o instagram oficial do observatório.

Te garanto que a equipe terá todo prazer em receber os pedidos e em te receber pessoalmente nas instalações do OAU.

Espero que você conheça o OAU em breve. E se caso já o conheça, não demore em revisitá-lo.

Uma parte da equipe do OAU de anos atrás. Da esquerda para a direita, Prof Jules, Larissa e Cabeça Isidório (ao fundo), eu e o Nicholas Schofield. Fonte: OAU.

Sugestão de Leitura:

E para que você possa desfrutar um pouco de conhecimento e divulgação científica mesmo não visitando o OAU, se prepare!

Além de todas as recomendações que já fiz sobre o material disponibilizado pelo OAU na internet, tem um livro em especial que você precisa ler o quanto antes!

Essa é uma sugestão que eu até já fiz aqui no blog, mas não com tanto destaque.

Esse é um livro fantástico, um fenômeno de sucesso desde a publicação de sua primeira edição, em 1988, escrito por um dos mais destacados cientistas do século XX, o Stephen Hawking.

E se você adquirir através desse link que eu tô recomendando abaixo, além de receber em sua casa uma das melhores obras de divulgação científica dos últimos tempos, de quebra você ainda vai me ajudar a continuar trazendo conteúdo de qualidade gratuitamente pra você aqui no blog.

Clique aqui: Livro: Uma Breve História do Tempo.

O PRIMEIRO PASSEIO A GENTE NUNCA ESQUECE

Você tem o hábito de observar o céu noturno?

“Saturno tem anéis mesmo!”

No dia 13 de agosto de 2021 aconteceu meu primeiro passeio como parte da equipe do Observatório Astronômico (OAU) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Foi na Queima Cultural dos Homens de Barro no sítio Cores da Terra, em Ibirataia, uma cidadezinha no sul da Bahia, com pouco menos de 15.000 habitantes.

Eu participei juntamente com a Larissa Santos e a Carol Thiara como representantes do OAU no evento. Foi a minha primeira viagem como representante da equipe do OAU.

No fim do ano de 2019 eu participei do “Céu na Praça”, na cidade de Ilhéus. Eu nem considero como uma viagem, já que moro em Itabuna, que fica a 30km dela e frequentemente eu passo por lá.

Preparação Para a Noite

Foi uma noite muito fria, estávamos todos bem agasalhados e a partir das 21h começamos a receber os primeiros curiosos da noite. 

Eu fui responsável pela observação do céu, a Larissa estava lá para apresentar o Sarau das Copas, uma das atividades apresentadas pelo OAU e a Carol estava lá como quebra-galho, pra fazer um pouco de tudo e fazer capturas de momentos com a máquina fotográfica. 

Além da ponteira laser, eu levei também um Maksutov Cassegrain Orion, com a lente objetiva de 127mm, distância focal de 1540mm e razão focal F12, além de uma montagem equatorial EQ3 com o tripé. E nem estou contando com o peso da minha mochila.

Ou seja, estava uma carga muito pesada. 

Cheguei no local do evento, sítio muito bem cuidado e muito bonito, por sinal, e começamos a montar o acampamento.

Recebemos pessoas de várias idades; primeiramente apareceram jovens, em seguida pessoas adultas, geralmente casais com seus filhos, e por último vieram idoso. E nem tínhamos separado por faixa etária.

Era nítida como as pessoas que chegavam sabiam, mesmo que pouca coisa, sobre ciências, física e sobre astronomia, o que me espantou. 

Muitos sabiam diferenciar planetas, como Júpiter de Saturno, Marte de Vênus, com características acertadas. 

Expectativa versus Realidade

O roteiro dessa primeira visita era o seguinte:

  1. Fazia uma breve apresentação do céu, mostrando a constelação do Escorpião que estava bem acima das nossas cabeças, o que eu chamo de “estar de peito aberto”, o Cruzeiro do Sul um pouco baixo no céu e descendo, além dos planetas Júpiter e Saturno e a destacada Via-Láctea, da qual tínhamos uma bela visão naquele espaço escuro do sítio;
  2. Logo em seguida eu fazia uma introdução à observação das luas de Júpiter que Galileu Galilei fez em 1609, descobrindo as que chamamos hoje de as 4 Luas Galileanas: Io, Calisto, Ganimedes e Europa;
  3. Fazíamos a observação de Júpiter e essas luas. Uma coisa interessante foi perceber que havia um movimento, mesmo durante apenas uma noite, das Luas Galileanas. No começo da noite eu conseguia ver apenas 3 delas. Foi muito legal ver que uma dupla de garotas fizeram observação pelo telescópio no início da noite e no fim da observação e elas que no começo só tinham visto 2, antes de irem embora conseguiram ver as 4, o que pra mim foi muito legal;
  4. Por último eu apontava o telescópio para Saturno, o que acabava se tornando o ponto alto da visita. 

No momento em que as pessoas faziam a observação, eu perguntava pra elas o que viam, e a resposta se dividia em dois grupos: Os que respondiam que perceberam os anéis e ficavam admirados e os que ficavam claramente frustrados por não conseguirem identificar bem o que viam ou não conseguiam separar os anéis do planeta.

Para ambas as respostas eu tinha um Plano B, que era justamente trocar a ocular de 20mm e colocar uma de 8mm, que faz com que o campo de visão diminuísse, mas a aproximação aumentasse, aumentando também a imagem do objeto observado. 

Uma virada de jogo

Nesse momento, meus amigos, tanto as pessoas do primeiro grupo de respostas, quanto do segundo abriam aquele sorriso, como quem finalmente aceita as informações que leram ou viram na tv desde a infância e sentiam o alívio de perceber que aquelas imagens de Saturno eram mesmo dele e que não haviam sido enganadas.

Aqui está o ponto onde eu queria chegar. Ouvir de tantas pessoas, desde as crianças aos mais idosos, que Saturno realmente tinha anéis nos mostra o quanto que as pessoas, de modo geral, desconhecem o universo.

Isso se tratando tanto da nossa vizinhança ou se falamos nos mais distantes pontos que podemos enxergar do cosmos.

E é preciso lembrar que nem todo mundo vai querer ser Físico, Astrônomo. Nem todo mundo tem vocação para carreira acadêmica. E está tudo bem com isso.

Mas, é certo que, de maneira geral, as pessoas não tem contato com telescópios, com simuladores do céu, com monitoradores de satélites artificiais ou qualquer coisa do tipo. 

Essa falta de contato, que muitas vezes se dá pela falta de acesso ou por não saber onde procurar faz com que as pessoas passem suas vidas sem saberem coisas simples ao seu redor, como os pontos cardeais ou a distância e as dimensões da Lua.

Às vezes as pessoas não sabem explicar nem mesmo sabem como se dão as fases da Lua.

Por isso que é importante pegar o telescópio, levar até as praças, levas às escolas, chamar os amigos, a família, alguma turma da escola do bairro e conversar sobre os planetas.

Vale a pena mencionar sobre as estrelas, constelações, sobre o mundo à nossa volta e percebermos o movimento, a beleza e a elegância do céu.

Conclusão

Estamos em tempos difíceis.

A pandemia da Covid-19 tem assolado ainda o povo brasileiro e algumas restrições precisam ser obedecidas.

Os cuidados continuam sendo necessários para que erradiquemos de uma vez esse vírus maldito à medida que a vacinação avança no país.

Saiba que, mesmo dentro de nossas casas, das janelas e mesmo em apartamentos, é possível acompanhar o céu noturno. Existem muitos simuladores gratuitos e fáceis de manusear.

Menciono aqui o Stellarium, o In The Sky, Heavens-Above, Sky Safary, o Star Walk 2, Celestia (estes 3 últimos para mobile). 

Basta a menor dose de curiosidade com um pouco empenho e te garanto que você vai aprender tantas coisas sobre o universo que jamais imaginou que você fosse aprender.

Me acompanhe por aqui, a ideia é de tornar os textos no blog cada vez mais frequentes.

Até mais. 

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